Entrevista com Bulbul Sharma

Autora conhecida de amantes da culinária e apaixonados pela Índia, Bulbul Sharma releva nesta entrevista alguns dos bastidores que inspiraram os contos que compõem A Ira das Berinjelas. Como realiza seus personagens, a importância da comida para os indianos e o quanto os aromas e a cultura indiana povoam a imaginação dessa escritora, professora de arte e artista plástica formada em literatura russa. O resultado são deliciosas histórias temperadas de dramas, paixões e receitas para saborear.

Tinta Negra: Que importância a comida tem em sua vida?

Bulbul Sharma: Na verdade a comida não tem, para mim, tanta importância. Não sou nem um pouco exigente, como de tudo, exceto carne vermelha. Mas sou fascinada pela relação que outras pessoas, especialmente as mulheres, mantém com a comida.

TN: O livro A Ira das Berinjelas lida com relações sociais na Índia. Na sua opinião, leitores de outros países podem se identificar com seus personagens e histórias?

BS: Tudo que escrevo tem relação com a vida comum das famílias indianas. Gosto de examinar todos os detalhes da vida familiar, seus conflitos triviais, esperanças e sonhos.

TN:  Você  prega uma escrita espontânea  –  sem reescrituras, apenas correções

gramaticais. Fale um pouco de seu processo de criação.

BS: Escrevo com velocidade e não gosto de revisar, por pura preguiça. Assim que uma boa ideia surge na minha cabeça, sou capaz de elaboráIla com muita rapidez. Posso escrever um conto de uma só vez, em uma  hora. Para meu novo romance, no entanto, que é uma história de assassinato e mistério ambientada em um vilarejo, tive que fazer quatro rascunhos – algo um tanto penoso para mim!

TN:  Você se formou em literatura russa na Universidade de Moscou. Como isso

influenciou a sua escrita?

BS: Meus dias de estudante em Moscou foram ótimos, mas as coisas mudaram muito de lá para cá. Não estou certa se a literatura russa teve algum impacto na minha escrita. A vida na antiga Entrevista com Bulbul Sharma casa da minha família, em Calcutá, durante a infância, e agora  em um vilarejo no Himalaia aparecem muito mais em minhas histórias. Fui influenciada por Tchecov, claro, mas também por muitos escritores indianos como Premchand, Tagore e R. K. Narayan.

TN: Além de escrever, você pinta e dá aulas. Como tudo isso se conecta em seu trabalho?

BS: Meu trabalho como professora de arte para crianças com necessidades especiais é uma parte muito importante da minha vida. Tiro toda a minha energia daí, da convivência com as crianças, que me fazem enxergar o mundo maneira mais pura e verdadeira. Elas me mostraram que tudo o que importa é o momento que estamos vivendo, e não o passado ou o futuro. E isso é extraordinário, pois o livro sagrado indiano,  o Gita, escrito há mais de 2  mil anos, ensina exatamente a mesma coisa.

TN: Como você teve a ideia de usar a comida como um instrumento social? Você escreveu todas as histórias de uma só vez, conectandoOas com alimentos?

BS: A ideia de usar alimentos como um  instrumento  social me veio à cabeça  quando eu vi o quanto nós  indianos falamos  sobre  comida. Dos mais ricos aos mais pobres –  a comida é um assunto importante em nossa sociedade. Mesmo os nossos deuses  têm alimentos cozidos especialmente para eles;  as viúvas têm seu próprio menu vegetariano; mulheres modernas e educadas preparam almoço, refeições para seus maridos e filhos.

TN:  Seus personagens ganham vida aos olhos dos  leitores. Como você os cria? Eles são baseados em pessoas e lembranças reais?

BS: Nossas esperanças, sonhos, medos e desejos são todos mais ou menos o mesmo. A maioria dos meus personagens é baseada  em gente que conheci. Eu adoro ouvir as pessoas  falando e uma vez que os indianos gostam de falar com estranhos, dizendoIlhes seus pensamentos mais íntimos, é fácil ser escritor na Índia…

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